O Educandário



O EDUCANDARIO ALZIRA BLEY
O Educandário Alzira Bley é um local permeado por história e memória. Durante quatro décadas, entre os anos de 1940, na sua inauguração, até 1979, com o fim da internação compulsória dos hansenianos no Hospital Colônia Pedro Fontes, foi o local que abrigou os filhos dos pais acometidos com esta doença.
O Educandário Alzira Bley fica localizado na Rua Projetada, s/n, Rodovia do Contorno, BR 101, Km 09, Itanhenga, Cariacica-ES, e, conforme o tripé do Plano Nacional de Combate à Lepra, funcionou como preventório durante o período de 1940 a 1979, atendendo exclusivamente aos filhos sadios de hansenianos.
No dia da inauguração da Colônia de Itanhenga (1937) foi lançada a pedra fundamental para construção do Educandário Alzira Bley e da Granja Eunice Weaver (prédio que funcionava como alojamento dos meninos com idades entre 10 e 18 anos), que foram concluídos depois de três anos e inaugurados no dia 24 de abril de 1940. Enquanto as obras estavam em andamento, as crianças sadias, filhas dos portadores de hanseníase, ficaram instaladas no prédio de observação, que se localizava em área próxima a Colônia.
A escolha do nome do Educandário e da Granja se deu por sugestão do Dr. Pedro Fontes, então Chefe do Serviço de Profilaxia da Lepra do Estado do Espirito Santo. A denominação “Educandário Alzira Bley” foi uma homenagem a Dona Alzira Herondina Donat Bley, esposa do Interventor do Estado do Espírito Santo, o Major João Punaro Bley. Já a “Granja Eunice Weaver”, homenageia a Senhora Eunice Sousa Gabi Weaver, que foi a fundadora da Sociedade de Assistência aos Lázaros, em Juiz de Fora (MG), e lutou pela causa em todo território nacional.
Nos anos iniciais de funcionamento, a Granja era administrada por um Padre alemão chamado Rodolpho Tellmann e o quadro administrativo do Preventório era composto por cinco Irmãs da Ordem de São Vivente de Paula de Paris, que provinham de um escritório central no Rio de Janeiro e todas as Irmãs eram naturais do Estado do Ceará.
No Educandário ficavam as meninas com idades até 18 anos e os meninos menores de 10 anos, enquanto na Granja Eunice Weaver ficavam os meninos de 10 a 18 anos, a fim de evitar o convívio dos adolescentes de sexos opostos no mesmo prédio. Tanto no Educandário Alzira Bley, quanto na Granja Eunice Weaver as crianças e adolescentes eram ocupados com tarefas na granja, no pomar, na horta, na sapataria, como auxiliar de cozinha, guardião e cuidador de crianças, dentre outros, pois os religiosos e posteriormente os presidentes que administraram a instituição acreditavam que trabalhando eles se tornariam mais dóceis e mais fáceis de administrar. Eles eram estimulados a trabalhar por uma pequena remuneração para preparar-se para a vida prática.
Além das aulas e dos trabalhos domésticos as meninas ainda deveriam aprender trabalhos manuais, para se tornarem moças prendadas e no futuro trabalhar em casas de família, como foi o destino de muitas delas. Para os meninos a previsão não era muito diferente, além dos estudos e oficinas de trabalhos manuais (sapataria, carpintaria, padaria) os serviços na agricultura e criação de animais também faziam parte de suas atribuições diárias.

Algumas datas importantes eram festejadas com as crianças durante o ano, como: Ano Novo, Carnaval, Páscoa, Dia das Mães, Festas Juninas, Dia da Independência do Brasil, Dia da Árvore, Festa de São Cosme e São Damião, Dia dos Pais, Dia das Crianças, aniversariantes do mês e Natal. De acordo com as narrativas das histórias de vida dos ex-internos do Educandário Alzira Bley, as comemorações mais esperadas eram o Dia das Mães, o Dia dos Pais e o Natal, porque eram as três ocasiões em que os filhos segregados podiam ir até a Colônia de Itanhenga visitar seus pais, mesmo que fosse através do parlatório de vidro, que posteriormente virou uma tela, depois uma cerca. Nas visitas que realizavam na Colônia, as crianças não podiam abraçar os pais, o contato era visual e por meio do aperto de mãos, pequenos afagos na cabeça, pois a cerca separava os pais “leprosos” dos filhos indenes.



REFERÊNCIAS

BARROS, Luiz Arthur Azevedo. Colônia de Itanhenga: a luta contra a lepra no Espírito Santo (1934 -1945). Dissertação (mestrado em História). Universidade Federal do Espírito Santo, 2014.

PAVANI, Elaine Cristina Rossi. O Controle da lepra e o papel dos preventórios: exclusão social e interações socioespaciais dos egressos do Educandário Alzira Bley no Espirito Santo. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal do Espirito Santo, 2019.




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